sexta-feira, 29 de março de 2013

Capítulo Três: A festa



“Sentir o calor da sua boca e a sua língua a enrolar-se na minha era fantástico e indescritível. Este devia ter sido o nosso primeiro beijo.” 


Se o olhar matasse, o Rafael já estava morto. O seu à-vontade e descontração estavam a irritar-me, era como se não nos tivéssemos quase beijado. Ele reagiu como se nada tivesse acontecido. O meu olhar fuzilante trespassava-o cada vez que o via e ele fazia-se de desentendido. Estava quase a passar-me. 
- Lipe? – a voz de Filipa interrompeu a minha reflexão sobre maneiras de torturar o Rafael. 
- Sim, diz. 
- Era só para te relembrar que a minha festa é esta sexta, no Éden. Vais, não vais? 
- Sim, sim, claro… 
- Estás bem? Não me digas que ainda estás assim por causa do teu quase-beijo com o Rafael. 
- É que foi mesmo quase! Estou irritado pela maneira como ele está a lidar com isto, indiferente… 
- Tens a certeza que isso aconteceu mesmo? Não terás sonhado? 
- Não! Sei perfeitamente que foi real! 
- Ok, ok, desculpa. Mas olha não há nada que uma bela garrafa de Putinoff não resolva. – disse, dando-me uma palmada no omoplata. - E sexta está já ai. 
O toque soou mas eu continuei a falar com a Filipa, num canto ao pé dos cacifos, até que o Rafael nos interrompe. 
- Então vamos para a nossa aulinha de Biologia? 
- Não sei, talvez. Estou um pouco indeciso!- acentuei bruscamente a última palavra e saí em passo rápido em direção à sala de aula. 
- Ei mano, o que é que eu te fiz para me falares assim? – disse ele, ao sentar-se no lugar da Raquel ao meu lado. 
- Nada, Rafa, nada! 
- Então porque me falas assim? 
- Olha, esquece, ok? 
A Raquel chegou e ficou a olhar para nós os dois, confusa. Foi então que ele se levantou e dirigiu-se para o seu lugar, deixando a cadeira livre para ela. 
- Problemas? – perguntou ela, preocupada 
- Foi por causa daquilo que eu te disse ontem. Ele está indiferente. 
- Ele agora parece-me bastante abatido. – disse ao olhar para ele. Tinha a cabeça pousada na mochila sobre a mesa, com um ar pensativo. 
- Por mim, pode morrer com um pau enfiado no cu, já que ele, secretamente, gosta! 
- Sabes bem que não queres dizer isso. Ele só está entalado no armário e necessita de ti para o tirares de lá. 
- Bem pode continuar lá entalado! – terminei a conversa, tomando atenção na apresentação projetada no quadro sobre as Teorias da Evolução. 
Sexta-feira tinha chegado incrivelmente depressa. Eram 18 horas e ainda estava a começar a preparar-me. Tomei um duche rápido, fiz a barba, vesti uma roupa confortável e adequada para a noite: umas calças skinny e uma t-shirt. Penteei-me e quando eram 19 horas já estava à porta do meu prédio à espera da Filipa e dos seus pais que me iriam dar boleia. 
Rapidamente chegámos ao ponto de encontro e juntamo-nos ao resto do grupo. Seguimos para a pizzaria onde seria o jantar. 
Depois de nos deliciarmos com as maravilhas da cozinha italiana, entregámos os presentes à Filipa (ela adorou os brincos que lhe dei) e dirigimo-nos ao bar onde iriamos passar o resto da noite, o Éden. Era um bar simpático, tinha música, bebida e bom ambiente, era o que nós precisávamos. 
Quando dei por mim já estava sentado ao balcão do bar a beber o quinto copo de vodka com sumo de laranja. A animação que tinha ganho no jantar começava a desvanecer-se. 
- Então panisgas, já a beber? – brincou o Lucas, sentando-se num banco ao lado do meu. 
- A afogar as mágoas… 
- Oh, deixa-te dessas merdas e anda dançar comigo. 
- Depois eu é que sou panisgas… - disse enquanto o Lucas me puxava pelo braço para a pista de dança, a rir-se. 
Dancei com o Lucas, com a Filipa, com a Bianca, com a Raquel, com a Alex e com a Cláudia. A dança estava-me a fazer bem, sentia-me mais animado. 
Foi então que vi o Rafael sentado numa mesa acompanhado de uns sete copos vazios. O álcool que tinha no sangue ajudou-me na decisão de ir ter com ele. 
- Então, Rafa, que tens? Devias estar ali a animar a festa. 
Ele continuou a olhar para o copo vazio. 
- Desculpa se tenho sido um aziado contigo esta semana. – as palavras saiam-me tão fluidamente que nem tinha tempo de as pensar. 
Ele tirou o olhar do copo e focou-o em mim. 
- A Liliana deixou-me. Acabámos. 
- Tu e a Liliana acabaram?! – tentei manter um tom surpreendido, mas na verdade não estava, ela era uma porca. 
- Sim, trocou-me por outro. Disse-me que eu nunca lhe dava atenção e que não a merecia. - disse num tom pesaroso. 
- Queres ir dar uma volta lá fora para apanhar ar? 
Ele acenou com a cabeça e seguiu-me até ao exterior do bar. Achámos um banco um pouco afastado e sentámo-nos. Havia uma brisa fresca e não estava ninguém na rua à exceção de nós os dois. 
De repente, o Rafael abraça-me e começa a chorar no meu ombro. 
- Eu gostava mesmo dela, Filipe, gostava mesmo. – disse entre soluções e lágrimas. 
- Eu sei, eu sei… - meio reticente, chocado e culpado, lá o abracei e confortei. 
É então que ele levanta a cabeça e olha-me nos olhos. Ver aqueles olhos cor de avelã olharem assim para mim fez com que toda aquela raiva desaparecesse sendo substituída por borboletas no estômago. 
Foi nesse momento que senti os seus lábios tocarem os meus. Este sim era um beijo verdadeiro, real, completo. 
Ele abriu um pouco mais a sua boca e eu deixei-me levar, fazendo com que as nossas bocas se encaixassem perfeitamente. Sentir o calor da sua boca e a sua língua a enrolar-se na minha era fantástico e indescritível. 
Ele afasta-se e olha para a minha cara de surpresa e ao mesmo tempo de felicidade. 
- Acho que estou tão bêbado que não consigo ir para casa sozinho, levas-me? 
O sentimento de culpa voltara a apoderar-se de mim. 
- Não sei se posso...
- Oh vá lá! Se quiseres podes até dormir lá. 
A ver o seu estado com mais atenção lá concordei e chamei um táxi, dando-lhe a morada que tinha conseguido arrancar do Rafael entre risos e parvoíces. 
Chegados a casa dele, despi-o e pu-lo na banheira, dando-lhe um banho de água fria com bastante dificuldade devido à sua resistência e queixumes, Tu queres é ver-me a pilinha, seu malandro! 
Sequei-o e deitei-o na cama, completamente nu. 
Tirei a minha t-shirt e as calças sujas pelo vomitado que não aguentou até casa e deitei-me numa cama improvisada de cobertores e mantas que tinha encontrado no armário dele. 
Apenas de boxers vestidos comecei a ter frio, mesmo com as mantas a cobrirem-me, e a minha respiração começou a ficar mais ofegante. 
- Se quiseres podes vir deitar-te aqui comigo, assim aquecemos os dois. – disse ele na cama ao meu lado. 
Um pouco hesitante e ainda com o pulsar do sentimento de culpa, deitei-me na cama dele a seu lado. 
Ele rapidamente se aconchega ao meu lado acabando por dizer, antes de adormecer: 
- Gosto muito de ti, Filipe. 
Devido ao cansaço e às emoções fortes também acabei por adormecer, ignorando o facto de sentir as suas partes a roçarem na minha perna e ter algo mais que culpa a pulsar dentro dos meus boxers. 

Quando acordei o Rafael estava de costas para mim e aproveitei para me levantar, tomei banho, vesti umas roupas emprestadas e comecei a preparar o pequeno-almoço. 
- Bom dia. – exclama Rafael à porta da cozinha já com uns boxers vestidos e um ar ensonado, surpreendendo-me. 
Vou na sua direção com um ar radiante mas é então que reparo na sua expressão confusa e paro. 
- Lembraste de alguma coisa de ontem à noite? 
- Hum, não, acho que estava demasiado bêbado. – disse, coçando a cabeça. 
- Pois também me parece, porque estiveste a chorar ao meu ombro, beijaste-me e ainda dormimos juntos. – disse sem dó nem piedade, ignorando a sua cara de choque. 
- Uou… Tenho mesmo de ter cuidado com a bebida. Mas espera aí… como assim dormimos juntos?! 
- Tá descansado, só dormimos. Mas se fosse a ti tinha cuidado, ainda és enrabado. – voltei para o fogão, descarregando a minha raiva nos ovos mexidos.




PS: Desculpem o atraso!

segunda-feira, 25 de março de 2013

A Química da Morte

"Simon Beckett é um autor que rapidamente mobilizou a atenção de um público internacional com este seu primeiro thriller protagonizado por um especialista em antropologia forense. Após a perda da mulher e da filha de seis anos, David Hunter escolhe refugiar-se numa aldeia isolada de Norfolk, a tratar dos vivos, tentando esquecer a sua tragédia pessoal. Mas, mesmo aí, o destino obriga-o a lidar com aquilo de que ele pretende fugir... A Química da Morte foi finalista do mais importante prémio deste género literário, o Duncan Lawrie Dagger Award de 2006.
Ao fim de trinta segundos, a sua pele começa a arrepiar-se.
Ao fim de um minuto, o bater do seu coração ter-se-á tornado audível.
Ao virar a última página, dará graças por se tratar de uma obra de ficção."
"Um corpo humano inicia a sua decomposição quatro minutos após a morte. O corpo, outrora invólucro da vida, sofre então as duas derradeiras metamorfoses. Começa a digerir-se. As células dissolvem-se de dentro para fora. Os tecidos liquefazem-se, primeiro, e gaseificam-se, depois. Já sem estar animado, o corpo torna-se banquete imóvel para outros organismos. Primeiro as bactérias, depois os insetos. As moscas. Os ovos são depositados e depois eclodem. As larvas alimentam-se do rico caldo de nutrientes; em seguida, migram. Abandonam o corpo de um modo ordeiro, umas atrás das outras numa procissão que se dirige sempre para sul, sudeste ou sudoeste, por vezes, mas nunca para norte.
Nesta fase, a proteína muscular do corpo já sucumbiu, produzindo uma potente fermentação química. Letal para a vegetação, aniquila a erva à medida que as larvas percorrem rastejando e formando um cordão umbilical de morte, que se estende de retorno à sua origem. Nas condições perfeitas - de secura e calor, sem chuva - pode estender-se por vários metros, numa vacilante fila dançante castanha, de vermes amarelos e viscosos. É uma visão curiosa, e que pode haver de mais natural para os curiosos do que seguir este fenómeno até à sua origem?"

Este excerto podia ser o início de um livro de Patologia Forense, mas na verdade são os dois primeiros parágrafos deste belo livro. Podem-no chamar de nojento, mas para mim é um belo livro. Thriller e adrenalina percorrem-nos as veias enquanto o folheamos. Nunca sabemos o que há a descobrir na próxima página.
Gostei muito deste livro pelo tema policial forense, pelas descrições explícitas e maioritariamente pelos temas da Antropologia Forense que são constantemente abordados e explicados.

Obrigado Dr. Hunter por me dar mais certezas acerca do futuro que quero seguir.

Uma Morte Súbita


"Uma Morte Súbita é o primeiro livro para adultos de J. K. Rowling. Acolhido com enorme expectativa, este surpreendente romance sobre uma pequena comunidade inglesa aparentemente tranquila, Pagford, começa quando Barry Fairbrother, membro da Associação Comunitária, morre aos quarenta e poucos anos. A pequena cidade fica em estado de choque e aquele lugar vazio torna-se o catalisador da guerra mais complexa que alguma vez ali se viveu. No final, quem sairá vencedor desta luta travada com tanto ardor, duplicidade e revelações inesperadas?"


Esqueçam o Harry Potter. Uma Morte Súbita é um romance sobre a vida real, sobre coisas reais, sem fantasias, ou paninhos quentes. É a verdade nua e crua da sociedade atual. São os pais contra os filhos, os filhos contra os professores, meio mundo contra outro meio mundo. Tudo isto na pequena cidade britânica de Pagford. Temos temas como a adolescência, as drogas, o preconceito, a pedofilia, a toxicodependência, inveja, amor, política e tantas outras coisas.


Tem momentos para rir, outros para chorar. A mim fascinaram-me as personagens adolescentes por me encontrar na mesma faixa etária e as situações serem-me familiares. A autora prende-nos a uma narrativa rica em personagens complexas que nos vais apresentando ao longo da história, não há personagem principal.

Este livro comprova, o já irrefutável lema, que as aparências iludem

É um dos livros que me vão ficar marcados para sempre, aconselho vivamente a sua leitura.

sábado, 23 de março de 2013

Pobre Urso


Adoro o jogo de sombras ^^ Alguém já o experimentou? O perfume, claro. :D

Ménage


Uma threesome com estes dois era um perfeito sonho. Comigo no meio claro. :D
(Não me interessa que ela tenha enfeitado a testa do outro.)

quinta-feira, 21 de março de 2013

Owww, so cute

Nem a realeza escapou. Mas como diz o ditado, "não custa tentar", não é verdade?
E foi nessa pegada que apostou um fã do príncipe Harry ao encontrá-lo na balada.
Vinenco Ianiello deu seu telefone ao irmão de William na noite da última sexta-feira depois de vê-lo no The Kitchen Rum, em Notting Hill, na capital inglesa.
E segundo o rapaz, que obviamente é gay, disse à mídia britânica, Harry teria sido muito gentil à abordagem e levou com bom humor a cantada do moço.

"Te ligo se mudar de ideia sobre as mulheres. Ou os homens", disse o príncipe a Ianiello. Não é muita fofura?

Harry estava acompanhado da namorada Cressida Bonas na ocasião.
O terceiro na linha de sucessão ao trono de Elizabeth II tem 28 anos e é desejado por mulheres e gays no mundo todo.
Militar, bonito e com "bons atributos" já revelados em fotos, Harry é um dos sexy simbols da comunidade LGBT e ganhou ainda mais pontos com ela depois dessa.

Hey, Prince Harry, this is crazy, but, here is my number. Call me, maybe!

- Oin, tão querido *-* Cada vez adoro mais o UK.


PS: Perdoem lá o Português do Brasil, mas a notícia é brasileira

quarta-feira, 20 de março de 2013

É já na próxima semana

Capítulo Três: A festa

“Sentir o calor da sua boca e a sua língua a enrolar-se na minha era fantástico e indescritível. Este devia ter sido o nosso primeiro beijo.”

27/03/13

Dia do Pai

Pai. Uma palavra que nunca teve significado para mim. Para mim, Pai é Mãe. O meu progenitor abandonou-me a mim e à minha mãe quando eu nasci, não estava preparado para assumir as coisas. Mais tarde teve mulher e neste momento tenho uma meia-irmã com uma diferença de cerca de três anos, a qual nunca vi, nem ela deve saber da minha existência. Só para terem uma ideia, o meu progenitor já passou por todos os estados civis. 
É difícil quando passamos por uma pessoa que sabemos que é nosso pai, mas não sentimos isso.
Se me sinto infeliz? Não. Tive a minha mãe que sempre me apoiou e me tornou na pessoa que sou hoje. Não me fez falta um pai, tive tudo a que tinha direito. Talvez tivesse falta de uma figura masculina, mas who cares, já é tarde demais para isso.
A única coisa boa é que tenho a certeza que serei um excelente pai, aquele que nunca tive.



Feliz Dia do Pai :D

PS: Nada de deprês, por amor de Deus xD

quinta-feira, 14 de março de 2013

Capítulo Dois: Na casa dele


“As nossas cabeças iam-se aproximando enquanto os nossos olhos se hipnotizavam e os nossos lábios se humedeciam”


A aula de Filosofia passou rapidamente e não voltei a concentrar-me por causa do Rafael, estava sempre a fazer perguntas e a falar comigo. Gostava da atenção que ele me dava, é verdade, mas por vezes conseguia ser muito chato.
Desci as escadas em direção à sala comum. Nos intervalos, os alunos agrupavam-se todos ali, africanos, caucasianos, asiáticos… A minha escola é um bom exemplo de multiculturalismo. Dirigi-me ao meu cacifo e retirei a sacola de Educação Física que tinha deixado ali de manhã.
- Vais fazer física? – Rafael surgiu por detrás de mim.
- Não te parece que sim? – mostrei-lhe a sacola.
- Pois. Vamos indo?
- Estou à espera da Raquel, ela foi à casa-de-banho.
- Ela depois vai lá ter. Anda lá!
- Não, Rafael! Prometi-lhe que esperava. – insisti.
- Como queiras, até já! – pegou na mochila dele e desapareceu no meio da multidão.
Boa. Não me faltava mais nada. Odiava quando ele fazia aquilo, simplesmente amuava comigo quando não lhe fazia as vontades, era uma autêntica criança.
- Filipe, estás bem? – Raquel tinha voltado. – Estás com uma cara esquisita..
- É a minha cara, não tenho outra! – comecei a caminhar em direção aos balneários.
- Ei, calma, eu não te fiz nada! O que é que se passou? – disse ela, acompanhando o meu passo.
- Estou farto do Rafael, estou farto de babar-me por ele quando ele não me merece. Aliás, ele nem é gay ou bi! Estou a gastar a minha alma nisto. Tenho de desistir.
- Sabes bem que o amas e o quão difícil é para ti fazer isso. E depois, nem sabemos se ele é mesmo heterossexual. Eu cá não…
- Nem te atrevas a alimentar os meus sonhos! – cuspi, passando a porta da saída do pavilhão.
- Mas o que é que ele te fez? – perguntou ela preocupada, ignorando completamente o meu resmungo.
- Tipo, ele pediu-me p’ra ir com ele para baixo, mas eu estava á tua espera. Ele amuou.
- Que criança…
- Exactamente!
- Bem, esquece lá isso. Vá até já. – despediu-se, abrindo a porta do balneário feminino.
- Até já. – O que eu gosto mais na Raquel é a capacidade de ouvir as minhas lamúrias, ouvia-me e ouvia-me sem se queixar. A Alex também tinha essa capacidade, e eu retribuo sempre, se não estiver de mau humor.
Abri a porta do balneário e entrei, ainda tinha alguns alunos da turma anterior a saírem dos chuveiros e a vestirem-se. A maioria dos meus colegas já estava pronta. Pousei a sacola e comecei-me a despir. À medida que me despia fui lançando olhares aos rapazes da outra turma. Eram todos bem constituídos, musculados, definidos, com uns rabos lindos, arredondados. Sim, além de ser bissexual, tenho uma panca por cus. É um dos meus defeitos, gosto de rabos, daqueles redondinhos e arrebitados.
Enquanto estava a reparar naquele quadro de deuses gregos à minha frente, reparei que além de mim também o Rafael estava a olhar para eles. Não a olhar, mas a olhar. Quando os nossos olhares se cruzaram, ele desviou o olhar e terminou de calçar-se, levantando-se logo depois, indo na minha direcção. Continuei a despir-me, pegando nos calções para os vestir quando sinto uma palmada no rabo, viro-me e vejo o Rafa a sorrir para mim.
- Despacha-te lá chavalo, já está tudo lá fora. Ou queres ficar aqui a ver os rapazinhos, seu porco? – sussurrou a última frase e piscou-me o olho, indo-se embora.
Terminei de me vestir e quando olhei para os da outra turma, estavam todos a olhar para mim. Saí imediatamente do balneário.
Na aula de Educação Física a stôra decidiu pôr-nos a treinar voleibol, um desporto que eu odeio, não tenho coordenação alguma e depois as piadas dos outros dão-me cabo do sistema nervoso. O relógio parecia que não andava, ainda por cima já tinha os braços todos doridos.
Finamente a tortura tinha terminado e voltámos aos balneários. Despi-me rapidamente, enquanto o Luís ligava os chuveiros para a água aquecer. Peguei no champô e corri para os chuveiros. O chuveiro não é privado, portanto, entre esfregadelas ainda deitava um olho aos meus colegas. Lucas é um rapaz giro, de olhos verdes, cabelo castanho claro, musculado com um rabo esculpido por Eros. Ao lado dele estava o Luís que era magro, mas tinha um corpo mesmo assim definido, os cabelos negros combinavam com a sua pele morena, dando-lhe um ar exótico. Para terminar, tinha também um rabo bem redondo que me fazia babar, literalmente. Depois, à minha frente tinha o Rafael, que esfregava o cabelo, fazendo cair a espuma que, com a água, lhe escorria pelo corpo abaixo. Não era propriamente lindo, mas eu gostava dele, tinha um bom corpo, todo depilado. O rabo dele não era muito redondo, mas mesmo assim tinha vontade de o… de o… bem, de o possuir.
A voz de Lucas interrompeu-me o pensamento:
- Tu não jogas mesmo nada. És um coxo.
- Um coxo! – repetiu Luís.
- É assim eu não gosto daquilo, não tenho jeito para aquilo, ponto final.
- Mas aquilo não tem nada de especial! É só lançares a bola! – insistiu Lucas.
- Eu-Não-Gosto! Entendeste? – virei-me para enxaguar a cabeça.
- És um caso perdido…
- És um coxo! – disse Luís roubando-me um bocado do shampoo.
- Ei! – agarrei-lhe a mão, mas nesse preciso momento Lucas ligou a água fria e apontou o chuveiro na minha direção.
- AH! Puta! – gritei para ele, atirando-lhe com o frasco de shampoo, assim que senti o frio na espinha.
O duche terminou connosco a mandar água gelada uns aos outros e a rir.
Estava-me a acabar de vestir quando o Rafael veio ter comigo, meio cabisbaixo.
- Vens? – os seus olhos castanhos estavam duros e frios como a água do chuveiro.
- Ya. ‘Bora. – peguei na sacola enquanto o seguia em direção à sala.
- Olha… Queres vir a minha casa esta tarde? Tenho um jogo novo para te mostrar. – notava-se um tom de agitação na sua voz.
- Claro. – nem hesitei. Tinha que combinar a saída com a Raquel e a Alex para outro dia, elas iriam compreender, certamente.
-  Fixe. – o chocolate dos seus olhos derreteu-se e por fim sorriu.
O seu pedido surpreendeu-me, já mo tinha prometido antes, mas nunca pensei que me ia realmente convidar.
A aula de Biologia correu rapidamente, estivemos a corrigir uma ficha sobre Darwin e aproveitei para falar sobre a saída da tarde à Raquel e ela, disse que não se importava, ainda um pouco reticente. Quando dei por isso já estava a dar o toque de saída, arrumei as coisas rapidamente quando sinto a mão do Rafael no meu ombro.
- Vamos? – os seus olhos piscavam de alegria, parecia uma criança a abrir os presentes no Natal.
- Espera, deixa-me só despedir do pessoal. – dei um beijo à Raquel e ela piscou-me o olho, encorajando-me. Acenei aos outros e segui em direcção aos cacifos. Troquei alguns livros e peguei na sacola de Educação Física.
- Estás com o fogo no cu, Rafa. – disse eu, apressando-me para o acompanhar na passada.
- É para poupar tempo… - disse ele quase a correr.
- Tempo para quê?
- Tipo não quero desperdiçar tempo, senão não podemos fazer nada.
Fiquei a imaginar o que é que ele queria fazer comigo, no trajeto que fazíamos no autocarro para casa dele. A viagem demorou relativamente pouco tempo.
Saímos do autocarro e subimos a rua em direção a um prédio de três andares numa esquina entre um café e uma mercearia. Ele abriu a porta do prédio e deu-me passagem. Subimos os três lances de escadas e ele abriu a porta de madeira rodando a chave três vezes.
A entrada era um grande corredor que dava acesso às quatro divisões da casa. Ele deixou-me entrar e indicou-me amavelmente o quarto dos pais, a sala, a cozinha (que dava acesso à casa-de-banho) e finalmente o quarto dele. Era um quarto apertado, mas confortável, tinha o armário à entrada, ao lado da cama que estava encostada à parede. No canto estava uma estante cheia de CDs, DVDs e jogos. Ao lado da estante estava a secretária com o portátil em cima.
- Quarto fixe… - disse eu, olhando em volta.
- Obrigado. – fez um sorriso tímido que combinou com o seu tom de voz que para mim era estranho, nunca o tive visto assim tão tímido. – Vamos almoçar?
- Não sabia que íamos almoçar em tua casa.
- Pensavas que íamos almoçar onde? Na casa do vizinho? Anda lá! – caminhou em direção à cozinha e eu segui-o.
Abriu a porta do frigorífico e mostrou-me o conteúdo. Ambos concordámos em comer umas sandes de hambúrguer semelhantes às do McDonald’s, mas daquelas que se compram nas pequenas superfícies comerciais. Ele começou a preparar tudo e pediu-me para por a mesa enquanto aquecia as sandes. Assim o fiz. Parecia que morávamos juntos, parecíamos irmãos (isto pra não dizer amantes), a sensação era muito boa.
Quando ele finalmente trouxe os pratos para a mesa pudemos comer enquanto riamos com os Simpsons que estavam a dar na Fox. Terminámos de comer e arrumámos tudo, ele pôs a loiça no lavatório e eu levantei a mesa.
Depois de tudo arrumado fomos então para o quarto dele. Ligou o portátil e foi buscar uma cadeira para eu me sentar ao seu lado.
Estar assim tão perto dele, com as nossas pernas a tocarem-se dava-me arrepios na espinha e ainda mais pelo facto de ele falar comigo com as nossas caras tão perto uma da outra. 
Lá me mostrou o jogo e ainda jogámos um pouco, deu para ele gozar comigo pelos meus dotes a jogar jogos de FPS.
Após passarmos uma hora a jogar e a rir, levantei-me na cadeira e sentei-me na cama dele:
- Rafa, posso-te perguntar uma coisa?
- Ya, fala. Posso só meter uma música? Baixinho? – assenti com a cabeça e ele pôs a The Silence de Alexandra Burke a tocar num volume baixo, tal como prometera. Saiu da cadeira e sentou-se na cama, ao meu lado, sério. – Fala, puto.
“Boa, não só me bastava a música romântica como também se estava a aproximar de mim, isto é fantástico!”, pensei para mim mesmo.
- Tu… quando a Alexandra te contou que eu era bissexual, qual foi a tua primeira reação?
- Normal, tipo por mim, desde que sejas feliz podes gostar de quem quiseres. Não é da minha conta, eu não ligo a essas merdas.
- Oh… que querido… - as palavras escaparam-se-me pela boca sem que eu tivesse tempo de as impedir. Ele limitou-se a dar uma gargalhada e a aproximar-se mais de mim.
- Continuas a ser meu amigo, seja qual for a tua orientação sexual. Gosto de ti à mesma. – sorriu.
Não gostava do rumo que a conversa estava a tomar, se calhar até gostava, mas havia algo de estranho.
So say you love me, or say you need me. Don't let the silence do the talking.
O silêncio estava-se a tornar demasiado constrangedor, a música ecoava no quarto e na minha mente. Os seus olhos fintavam os meus, aquele castanho achocolatado estava-me a derreter a alma, levando-me quase a lançar um suspiro.
Just say you want me, or you don't need me. Don't let the silence do the talking.
As nossas cabeças iam-se aproximando enquanto os nossos olhos se hipnotizavam e os nossos lábios se humedeciam. Ele estava perto, bastante perto, sentia o seu bafo na minha boca, os nossos narizes a poucos centímetros de distância. Ele continuava a aproximar-se, fechei os olhos e senti o seu bafo ainda mais próximo assim como o seu beijo.
O vibrar do telemóvel dele sobre a secretária de madeira fez-nos saltar aos dois. Os nossos lábios nem se chegaram a tocar, nem as nossas línguas a enrolar.
Ele saltou da cama e foi em direção ao telemóvel para ler a mensagem.
- É a minha namorada…
Ah sim, além de ser heterossexual, tem namorada, apesar de me ter quase beijado há três segundos atrás.
- Bem, vou andando… - peguei nas minhas coisas e dirigi-me à porta.
- Espera… Ainda tenho mais uns jogos para te mostrar.
- Não posso, já é tarde. – sem mais qualquer palavra, sai de casa dele.
Não me importava se o tinha magoado, ele tinha-me feito o mesmo. Ao menos de uma coisa tenho a certeza, ele não era completamente heterossexual. Havia uma réstia de esperança.


segunda-feira, 11 de março de 2013

Weeeird

Já é suficientemente estranho ver Spartacus com a minha mãe, devido a todas aquelas cenas de sexo, mas é ainda mais estranho quando são cenas gay. Este é o único par gay da série resistente até à data, Nasir e Agron, não sei até quando vai durar.
A minha mãe acha estranho ao facto de serem dois homens (tem a mesma reação com duas mulheres), mas lá lhe expliquei que na Roma Antiga, antes do Cristianismo, não se dava valor ao objeto da paixão (homem ou mulher).
Adorei que tivessem respeitado a cultura antiga na série é uma das razões pelas quais a vejo. Não só pelos corpos quase nus e brilhantes do soldados e gladiadores e as cenas eróticas tão presentes, mas também pela cultura clássica da Antiga Roma.


quarta-feira, 6 de março de 2013

Reflexões

Ás vezes gostava que tivesse havido um pouco de manipulação genética no meu desenvolvimento embrionário. Do género "Cria-Um-Sim", seria engraçado.

Existe gente tão bonita (na minha ideia) que até dói. Mas se for para ser apenas bonito e vazio de conteúdo, prefiro ser eu mesmo. Uma pessoa interessante vale mais que uma pessoa apenas bonita. Não te vale de nada seres bonito se não deres uma pra caixa.

Acho que me vou inscrever num ginásio. Tenho de começar por algum lado, não?

PS: Índio, andas a influenciar os meus posts!

Leituras

Hoje andava a passear pela Bertrand quando vejo este livro, "O Canto de Aquiles", chamou-me a atenção pela capa e ainda mais pela sinopse:

"Aquiles, «o melhor dos gregos», filho da cruel Tétis e do lendário rei Peleu, é forte, veloz e belo – irresistível para todos aqueles que o conhecem. Pátroclo é um jovem príncipe inábil, exilado na sequência de um ato de grande violência. Criados juntos por uma questão de circunstâncias, constroem uma ligação inseparável, mas arriscam a ira divina. São treinados pelo centauro Quíron nas artes da guerra e da medicina, mas, quando chegam os rumores de que Helena de Esparta foi raptada, todos os heróis da Grécia são convocados para cercarem a cidade de Troia. Seduzido pela promessa de um destino glorioso, Aquiles junta-se à causa e Pátroclo, dividido entre o medo e o amor pelo seu amigo, segue-o. Mal sabem eles o que as cruéis Moiras lhes reservam…"

As referências das obras clássicas gregas, toda a mitologia grega e a mítica relação entre Aquiles e Pátroclo, são para mim, factos muito interessantes para me sentir tentado a comprar o livro. Tenho de o pedir na lista de presentes ao Pai Natal.

Brevemente

Capítulo Dois: Na casa dele

“As nossas cabeças iam-se aproximando enquanto os nossos olhos se hipnotizavam e os nossos lábios se humedeciam”

13/03/13


PS: Não se esqueçam de seguir As Faces da Mentira no Facebook, basta carregarem na imagem da capa aqui ao lado.

domingo, 3 de março de 2013

Capítulo Um: Quem sou eu?



“Gosto dos dois, de carne e de peixe."

A Lua ainda era visível quando desci as escadas do meu prédio. Pálida e brilhante, lutando contra o seu inimigo, o Sol, cuja luz já iluminava a rua.
Atravessei a rua e segui em frente em direção à paragem do autocarro. Viam-se poucas pessoas àquela hora da manhã. O ambiente estava calmo, mas o ar estava húmido, ainda se observava as pequenas gotas de geada nos vidros dos carros. Era, sem dúvida, uma manhã fria.
Passei em frente à minha antiga escola onde tinha passado grande parte da minha vida, onde tinha feito amigos para a vida inteira e onde tinha conhecido a pessoa que mais amava no mundo.
Quando cheguei à paragem reparei que já lá estavam outras pessoas à espera, pacientemente. Era bom sinal, significava que o autocarro estava prestes a chegar. Tirei o Ipod do bolso e meti os headphones. Selecionei a nova música do David Guetta e Sia, “Titanium”, era uma boa música para começar o dia.
Reparei nas pessoas que estavam à minha volta: havia uma velhota vestida de preto com as visíveis rugas de anciã a decorarem-lhe a face cansada. Os olhos eram de um castanho muito escuro que se confundia com o preto da pupila. O cabelo branco emoldurava-lhe o rosto. Era uma típica senhora de idade portuguesa… do século passado. Vestida de preto, atarracada, com um ar cansado. Parecia uma camponesa viúva que tinha passado a vida no campo a trabalhar a terra com as mãos.
Um pouco afastado dela estava um homem na casa dos 50 anos com as mãos nos bolsos. A face, com vestígios de rugas, era sisuda e vermelha como um tomate. Estava vestido de uma forma grosseira que combinava com ele. O homem reparou no meu olhar e imediatamente puxou da gosma e cuspiu violentamente a escarra para o chão. Virei a cara face ao nojo que aquilo me fazia. Era este o retrato de um homem, dito, macho? Porco, feio e mau? Felizmente o autocarro chegou e subi de imediato. Passei o passe e logo me fui sentar num dos lugares perto da porta.
A viagem até à escola foi calma. Depois de eu entrar, pouco a pouco, o autocarro foi enchendo. Jovens de todas as idades apanhavam o transporte para irem para a escola. Nem todos têm a sorte dos papás terem carros para levarem as crias à escola. Eu até tenho essa sorte, mas ambos os meus pais se encontram fora. O meu pai vive em Londres e trabalha como analista forense nos Serviços Secretos Britânicos e na Polícia de Londres. Raramente falo com ele, só quando vem cá a Lisboa de férias ou eu vou lá. A minha mãe é hospedeira de aviação e está constantemente no estrangeiro. Neste momento está numa ação de formação em Praga. Depois ainda havia a minha avó, mas desde a discussão que tivera há quase dois anos com a minha mãe, fizera as malas e partira para o Porto onde vivia na casa da afilhada. Portanto estava sozinho e até nem me importava, gostava de ter a minha própria independência.
Saí do autocarro e desci a rua, seguindo uns colegas de escola. Passei o cartão à entrada e entrei no pavilhão principal, fui à zona dos cacifos buscar os livros necessários para o turno da manhã.
Virei na esquina na direção da sala de convívio e lá pude avistar um grande grupo ao fundo. Era a minha turma.
- Filipe! – exclamou uma rapariga alta de cabelos aloirados.
- Bom dia Alex. Tudo bem? – disse-lhe dando-lhe um abraço e um beijo na bochecha.
- Tudo. Estava mesmo agora a falar com a Raquel sobre ti.
- Bem me parecia que tinha as orelhas a arder… - sorri.
- Tens sempre as orelhas a arder, Lipe. – uma rapariga de tom de pele rosado e cabelos negros em cachos, tinha-se aproximado, dando-me um beijo na face.
- Bom dia Raquel. Mas afinal o que é que estavam a falar sobre mim, isto é, se eu puder saber.
- Eu e a Raquel estávamos a pensar em convidar-te para irmos dar uma volta…
- Hoje, depois das aulas.
- Parece-me bem, eu alinho. Bem agora deixem-me só cumprimentar o resto desta gente.
Dirigi-me ao resto do grupo e logo uma rapariga magra, de óculos coloridos abraçou-me.
- Bom dia Lipe!
- Bom dia Cláudia. – Cláudia era uma amiga que tinha conhecido há um ano, era pequenina e por vezes, extrovertida.
Pessoa a pessoa, fui cumprimentando cada um até chegar ao grupo dos rapazes.
- Olhem só… O panisgas chegou!
- Bom dia para ti também Lucas – apertei-lhe a mão, sorrindo.
Lucas era meu amigo há quase um ano também, conhecemo-nos no 10º ano e sempre gostei do ar descontraído dele e não só…
Senti uma palmada na nuca e quando me virei vi o Luís, o palhaço da turma, com a mão a agarrar a cintura de outra amiga minha, a Filipa. Eles amavam-se mas só que não queriam admitir, então mantinham aquela estranha relação que não conseguia classificar.
- Bom dia Lulu. – usei a alcunha que lhe deram para me vingar e logo me virei para Filipa dando-lhe um beijo nas faces rosadas – Bom dia Filipa.
Senti o olhar de Luís sobre mim e logo me afastei, indo em direção de outras duas amigas, Vânia e Bianca. Vânia era pequena e querida. Bianca era simpática mas mantinha uma postura forte e imponente, mas por vezes lá se desleixava. Dei um beijo às duas e logo Bianca me segurou os ombros e apontou para a porta, sussurrando-me ao ouvido:
- Aí vem o teu amor!
E lá estava ele. Com o seu estilo irreverente, umas calças brancas, uma sweatshirt rosa e com os fones nos ouvidos ainda a pentear-se vendo o seu reflexo no ecrã do telemóvel.
Ah, sim, ele é um rapaz. Sou bissexual. Gosto dos dois, de carne e de peixe. De rapazes e raparigas. Tinha descoberto acerca de cinco anos que não me contentava apenas com mamas. O coming out tinha apenas ocorrido há um ano quando decidi contar às minhas melhores amigas, a Alexandra e a Raquel. Felizmente apoiaram-me e hoje estou orgulhoso e feliz.
- Boas puto. – disse-me o rapaz que eu amava, apertando-me a mão.
- Bom dia Rafael. – respondi eu tentando respirar, já encantado pelo seu perfume.
A paixoneta pelo Rafael tinha começado há dois anos quando ele entrou na minha turma e tornou-se o meu melhor amigo. As suas atitudes estranhas confundiam o meu gaydar.
A campainha soou. Despedi-me da Alex, da Vânia e da Bianca pois éramos de turmas diferentes. Elas são de Humanidades e eu, nem sei porquê, sou de Ciências. Combinámos um lugar para nos encontrarmos no intervalo seguinte e depois seguimos caminhos diferentes.
A primeira aula do dia era Filosofia, com a nossa Directora de Turma. Até que era simpática e divertida quando não estava de mau humor. Eu gostava dela.
- Bom dia a todos. Antes de começarmos com o nosso querido René, tenho uma informação a dar-vos.
Ouviu-se um burburinho entre a turma.
- Daqui a um mês, segundo o previsto, chegarão os alunos ingleses do projecto Comenius e precisarão de alojamento.
- Vêm rapazes ou raparigas, stôra? – interpelou Rafael com um ar curioso.
- Não sabemos. Mas isso é irrelevante Rafael.
- Não é nada. Para que é que a stôra acha que eu quero um gajo em casa? Eu cá não sou desses maricas.
As palavras dele magoavam-me, mesmo sabendo que não era por mal, mas porra, ele sabia de mim, podia-se conter um pouco. Tinha-lhe contado que era bissexual no Verão passado. Ele aceitou muito bem, que desde que eu seja feliz estava tudo bem para ele, segundo as suas palavras. Não se importava com isso, segundo ele, as pessoas tinham direito a amar quem quisessem, tinham direito a serem felizes.
- Ai, ai essas hormonas, menino Rafael, controle-se! Mas bem… Quem é que se oferece a dar tecto aos recém-chegados? Eles apenas precisam de lugar para dormir, mais nada.
- Eu, stôra. – estendi o braço.
- Como eu imaginara. Muito bem Filipe, depois falamos sobre os pormenores quando chegar a altura, ok?
Assenti com a cabeça.
- Mais ninguém? – a turma permaneceu calada. – Ok. Vamos passar ao nosso amigo Descartes, peguem no Discurso, por favor!
- Stôra, eu esqueci-me do meu em casa, posso-me juntar com o Filipe e com a Raquel?
- Só não te esqueces da cabeça porque está junta com o corpo… Vai lá para o pé deles, mas não os distraias!
Rafael puxou a cadeira e encostou-a à minha, sentando-se depois, colado a mim.
- Vamos onde? – perguntou ele fixando os seus olhos cor de chocolate nos meus.
Pisquei os olhos muito rápido e apontei para o parágrafo que acabara de ler. – Aqui.
Voltei a olhar o texto e continuei a ler. Ele passou o braço por detrás das minhas costas e chegou-se ainda mais perto, ficando a centímetros de mim. Bolas lá se foi a concentração, pensei. É então que ele aproxima a sua boca do meu ouvido e pousa a mão na minha perna, sussurrando:
- Sabias que te amo? – ao ouvir isto, o meu corpo ficou completamente hirto e olhei para ele, levantando a sobrancelha.
- Ya, Rafael, vai gozar com outro. – voltei a olhar o texto.
- É verdade… - disse ele, passando o dedo pelo meu pescoço.
- Rafael, fazes o favor de parar de fazer festinhas ao Filipe?! – a voz da stôra irrompeu o silêncio da turma que começara a rir. A mim só me apetecia ter ali um buraco para me esconder.
- Oh stôra, eu não estava a fazer nada. Já lhe disse que não sou desses amaricados. Eu cá gosto é de… - tossiu levemente – … bem, a stôra sabe. – disse ele, afastando-se um pouco de mim.
- Sei, sei. O que eu sei é que devias ganhar juízo. Levar umas boas palmadas para entrar na linha.
Rafael arregalou os olhos de espanto e a Raquel começou a tossir, tentando abafar o riso. Lancei-lhe um olhar reprovador, sorrindo logo depois.